03 Charles Darwin e Alfred Russel Wallace - propagadores da teoria da evolução

Charles Darwin e seu livro, A Origem das Espécies por meio da Seleção Natural, Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida, publicado em 1859, são mundialmente conhecidos. Quando jovem, Darwin sempre demonstrou interesse pela natureza, mas como seu pai não via futuro na carreira de naturalista, enviou-o para a Universidade de Edimburgo, para que estudasse Medicina.
Aos 16 anos, desistiu do curso e se transferiu para a Faculdade de Teologia da Universidade de Cambridge, com o intuito de se tornar clérigo, já que a maior parte dos naturalistas da época integrava o clero. Recebeu o grau de bacharel em Teologia em 1831 e foi recomendado pelo Reverendo John Henslow, professor de Botânica, ao Capitão Robert Fitzroy, do navio HMS Beagle para participar de uma viagem de pesquisa ao redor do mundo.
 Aos 22 anos, em dezembro de 1831, Darwin deixou a Inglaterra a bordo do Beagle com a missão de mapear parte da linha costeira sul-americana. Enquanto a equipe fazia o traçado cartográfico do litoral, Darwin observava a distinta natureza da América do Sul, assombrado pela distribuição geográfica das espécies. Nas Ilhas Galápagos, o jovem pesquisador encontrou vários tipos de tentilhões, os quais, ainda que muito similares, tinham aparentes adaptações ao seu habitat particular. Ao deixar as Galápagos, Darwin havia lido os “Princípios da Geologia” de Charles Lyell e passou a duvidar do ensinamento da Igreja de que a Terra teria apenas alguns milhares de anos de idade.
Posteriormente, passou a teorizar que essas novas formas teriam resultado de adaptações cumulativas a um ambiente diferente (Campbell 1990: 428-429). Na década de 1840, concluiu o esboço da teoria da seleção natural como mecanismo para a evolução, mas não o publicou na época. Passou a maior parte da sua vida adulta em condição de semi-invalidez, cuja causa permanece não esclarecida, se orgânica ou psicológica. Mesmo assim, escreveu extensivamente e prosseguiu em sua pesquisa.
A formulação do conceito da seleção natural como uma fonte de novas espécies teve como co-fundador Alfred Russel Wallace (1823-1913). Este, ao contrário de Lyell e Darwin, foi criado na pobreza e não teve acesso à educação formal superior, tendo adquirido seu conhecimento biológico de suas vastas experiências na Amazônia e nas Índias Ocidentais. Aos 21 anos, conheceu o movimento espírita, do qual se tornou mais tarde líder e sobre o qual veio a escrever. Entre suas obras, encontra-se um artigo originalmente em duas etapas e reunido em 1876 no livro On Miracles and Modern Spiritualism (Sobre Milagres e o Espiritualismo Moderno) (Morris 1989: 171).
Em 1855, publicou um manuscrito sobre a origem das espécies, o qual fez com que Lyell e Darwin percebessem quão próximo Wallace estava da pesquisa de Darwin. Enquanto Darwin retardava a divulgação da Origem das Espécies, Wallace, nas selvas malaias, deu uma curiosa contribuição para a ciência:
“Estava, na época (fevereiro de 1858), em Ternate, nas Molucas [atualmente parte da Indonésia], sofrendo de febre alta e intermitente, pela qual me encontrava prostrado todo o dia, sob os sucessivos ataques de calor e frio. Durante uma crise, novamente considerando a problemática da origem das espécies, algo me levou a pensar no trabalho de Malthus ‘Ensaio sobre a População.’ (Morris 1989: 172, citando Wallace, The Wonderful Century)...
“Foi quando subitamente me ocorreu que esse processo involuntário certamente melhoraria a raça, pois, em cada geração, os inferiores seriam inevitavelmente eliminados para a permanência dos superiores, ou seja, o mais apto sobreviveria. De um momento para o outro, pude perceber todo o efeito disso.
“Todo o método de modificação das espécies se tornou claro para mim e, nas duas horas dessa minha crise, deduzi os principais pontos da teoria. Naquela mesma noite, fiz o esboço de um ensaio o qual concluí nas duas noites subseqüentes e enviei tão logo quanto possível para o Sr. Darwin” (op cit, pág. 173).
Nessa ocasião, Darwin foi persuadido pelos seus amigos, Lyell e Hooker, a interromper os trabalhos em sua “grande obra” e rapidamente publicar um resumo da mesma. Lyell e Hooker então apresentaram o esboço de Darwin de 1844 e o ensaio de Wallace de 1858 para a Sociedade Lineana em 1º de julho de 1858. O “resumo” de Darwin com 490 páginas foi publicado em 1859 com o título “A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural e o que veio a seguir é de conhecimento comum (Taylor 1991: 130-131). Se não fosse pelo estímulo dos escritos de Wallace, Darwin talvez não tivesse publicado “A Origem das Espécies” e o curso da história teria permanecido inalterado, conforme muito apropriadamente sumarizou Morris:
“Temos aqui um fato espantoso! A teoria que Darwin vinha desenvolvendo, fazia 20 anos, no seio de um centro mundial da ciência e com a ajuda e o apoio de muitos amigos da classe científica foi, de modo repentino, revelado na íntegra a um espírita autodidata no outro lado do mundo, isolado em uma ilha tropical, durante uma intensa crise de malária que durou duas horas. Essa não é a rota típica para a descoberta científica” (Morris 1989: 173).

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